Febre Amarela

O Brasil possui a maior área enzoótica de febre amarela do mundo, abrangendo cerca
de 5 milhões de km2 , correspondendo à Região da Bacia Amazônica, que inclui as Unidades
da Federação da Região Norte e Centro-Oeste e a Pré-Amazônia Maranhense.

A saúde pública brasileira enfrenta atualmente um grande desafio. É necessário
intensificar e aprimorar as ações de vigilância da febre amarela com a finalidade de detectar
precocemente a circulação viral, se possível, antes mesmo de incidir em seres humanos,
enquanto ainda atinge somente animais silvestres. É necessário ainda que as atividades de
imunização alcancem altas coberturas, de forma homogênea, nas milhares de localidades da
região enzoótica e também em localidades infestadas pelo Aedes aegypti fora daquela região.

A febre amarela é uma arbovirose (doença transmitida por inseto), sendo uma causa
importante de morbidade e alta letalidade em vastas zonas das regiões tropicais da África e
das Américas.

A partir do século XVII, essa doença dizimou vidas em extensas epidemias nesses
dois continentes. No início deste século, o desenvolvimento de vacinas eficazes e a
erradicação do vetor urbano, Aedes aegypti, alentaram por algum tempo a esperança de que a
doença desapareceria, pelo menos no Novo Mundo. No entanto, apesar dos trabalhos
realizados durante várias décadas, continuaram sendo registrados casos esporádicos em
populações rurais não imunes, em decorrência do ciclo silvestre de transmissão da febre
amarela.

A febre amarela silvestre é uma zoonose e, como tal, impossível de ser erradicada.
Tem se mantido ativa nas zonas tropicais tanto da África como das Américas (Mapa 1). A
ocorrência da febre amarela urbana, entretanto, está intimamente relacionada à distribuição e
dispersão do Aedes aegypti. As campanhas de erradicação desse mosquito em muitas zonas
urbanas da América Latina e do Caribe trouxeram como resultado a eliminação dessa
modalidade da doença.

O Aedes aegypti foi eliminado do Brasil duas vezes (1955 e 1973). Foi novamente
reintroduzido em 1976, através do porto de Salvador, na Bahia, de onde se dispersou para
outros pontos do país, estando hoje presente em todas as Unidades da Federação. Sua
dispersão atinge atualmente cerca de 3.000 municípios brasileiros.

 Em 1986, outro mosquito, o Aedes albopictus, foi identificado no Brasil, estando
presente atualmente em vários estados (Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio
Grande do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás, Distrito Federal, Amazonas, Maranhão,
Bahia e Rio Grande do Norte). Sua dispersão atinge atualmente cerca de 1.400 municípios. É
considerado um vetor potencial da febre amarela.

Embora a modalidade urbana da febre amarela não ocorra na América do Sul desde
1942, considera-se crescente o risco de sua emergência. Observa-se um crescimento
demográfico nas zonas enzoóticas, baixas coberturas vacinais, além da reintrodução e
dispersão do Aedes aegypti na quase totalidade dos países nos quais havia sido erradicado,
inclusive em regiões de altitudes elevadas e zonas rurais da Colômbia, onde antes nunca havia
sido encontrado. A situação torna-se ainda mais complicada pelo aparecimento de resistência
do Aedes aegypti aos inseticidas, relaxamento das medidas de luta contra este mosquito em
algumas regiões, além da dificuldade operacional para desenvolver ações de vigilância e
combate ao vetor e o custo crescente dessas medidas.


Fonte ( Livro ) : Manual de Vigilância Epidemiológica de Febre Amarela